Hospitais privados do Rio mandarão SMS para pacientes com dengue (Postado por Lucas Pinheiro)
Cerca de 600 funcionários de 85 dos 144 hospitais privados da cidade do Rio de Janeiro vão passar por um treinamento a partir do fim do mês para saber como agir em casos de dengue e evitar uma epidemia neste verão. Entre as mudanças que serão aplicadas no atendimento após o curso, está o envio de mensages de texto por celular (SMS) para pacientes atendidos no hospital e liberados para casa.
A partir de 20 de dezembro, em cada plantão nas emergências, deve haver uma pessoa treinada.
O curso é uma parceria público-privada e será ministrado a médicos (1/3 do total) e enfermeiros (2/3) durante cerca de três semanas no Centro de Treinamento Berkeley, no Rio.
Segundo o clínico geral Josier Vilar, presidente do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Casa de Saúde do Rio de Janeiro (SindhRio), que coordena a iniciativa, a meta é impedir as chamadas “mortes evitáveis” por dengue, ou seja, aqueles casos menos graves que, por não serem tratados adequadamente, evoluem até a morte.
“Nos últimos oito meses, a região Sudeste registrou 222 óbitos por dengue, 135 dos quais ocorreram no estado do Rio de Janeiro. O estado de São Paulo, que é muito maior, teve 50 mortes”, diz Vilar.
Há, ainda, o agravante da falta de saneamento e da escassa vigilância epidemiológica na cidade, segundo o presidente do SindhRio.
A meta da atual campanha é não entrar na questão dos tipos de dengue, como clássica ou hemorrágica. “O tipo não importa na hora da prevenção. Temos que enfatizar que a dengue pode ser muito grave, mesmo não-hemorrágica”, afirma Vilar.
Os agentes de saúde vão ser treinados para agir em três casos distintos: com pacientes em pé, sentados ou deitados. Na primeira situação, a pessoa chega até o serviço de emergência sentindo dor nas articulações, febre, mal-estar e dor de cabeça, entre outros sintomas. O indivíduo é examinado e mandado embora para casa em 90% dos casos.
Os pacientes sentados são aqueles com alto índice de plaquetas e outras alterações no sangue. Precisam receber soro na veia para hidratação. E os deitados são os que vão ao hospital com pressão baixa e devem ser encaminhados ao atendimento de urgência ou a uma unidade de terapia intensiva (UTI).
O pior paciente, na opinião de Vilar, é o que é liberado para casa. “A febre, quando passa, pode ser sinal de melhora ou de grave piora. Por isso, é preciso ficar atento e fazer um acompanhamento”, ressalta.
Para monitorar essas pessoas, o SindhRio em conjunto com a Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fenasaúde) e os planos particulares Amil, Bradesco e Sulamérica propõe um serviço de SMS a ser enviado 24 horas após o paciente ir para casa. O torpedo deve lembrá-lo que deve voltar ao hospital durante cinco dias seguidos para ser reexaminado.
Se não houver sucesso, um call center ligará para o telefone residencial da pessoa no horário noturno, quando geralmente há mais gente em casa. “Se o indivíduo não retornar ao hospital porque não tem condições, devemos ter um transporte especial para levá-lo até o posto de atendimento”, promete Vilar.
Além disso, foram adquiridos 85 tablets (além de 37 para o setor público), que ficarão um em cada hospital privado do Rio. Um enfermeiro responsável será encarregado de incluir os dados dos pacientes que deverão receber as mensagens de texto pelo celular.De acordo com o presidente do SindhRio, a estimativa é que 2% da população brasileira seja atingida pelo mosquito Aedes aegypti nos próximos quatro meses, o que no Rio representa quase 130 mil pessoas dos 6,3 milhões de habitantes.
O pico da doença deve ocorrer a partir da segunda quinzena de dezembro até fevereiro ou março de 2012, quando os casos devem começar a cair gradativamente até maio.
Dos 217 hospitais em funcionamento na cidade do Rio de Janeiro, 144 são privados (85 deles com serviços de emergência, de diversos graus de complexidade) e 73 são públicos (37 com emergências).
“Isso tudo também vai servir para estarmos mais preparados e com mais condições sanitárias para receber a Olimpíada de 2016”, destaca Vilar.
Professora do curso
A clínica geral e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Sonia Maria Vagne é uma das oito pessoas que devem ministrar o treinamento no Rio.
No conteúdo programático, estão questões como a patologia e evolução da dengue, além de como organizar o serviço de saúde para um bom atendimento. “Devemos também orientar as famílias e garantir o retorno dos pacientes ao hospital”, diz Sonia.
A médica explica que os alunos capacitados deverão agir como multiplicadores nos locais onde trabalham. Segundo ela, esse tipo de curso já foi feito nos hospitais públicos, e agora o setor privado se engajou. “O objetivo é estender, em breve, essa ação para municípios mais distantes do estado”, afirma a professora.